Vera Barbosa

A maioria das coisas importantes que aprendo vêm de dentro, e não de fora de mim.

Textos

O MOTOQUEIRO             
 
             Dia desses, quase à noitinha, voltando de um compromisso, resolvi pegar um táxi para casa, pois esfriara muito durante a tarde, ameaçava chuva e eu estava sem agasalho e sem guarda-chuva. Tive que andar alguns quarteirões para encontrar um livre, pois já era quase hora do rush.
                Quando entrei, vi que era uma moça que dirigia o táxi, e, como ainda são poucas, brinquei com ela:
- ah, é uma menina, nunca andei de táxi com motorista mulher, aqui em São Paulo.
                Começamos a conversar, eu perguntei se ela trabalhava à noite e, qual não foi o meu espanto quando ela disse que só estava trabalhando à noite. Disse que já exercia a profissão havia doze anos, só durante o dia, mas agora o marido estava começando como taxista e só podia trabalhar durante o dia, pois ainda não conhecia direito a cidade, não tinha muita experiência com o pessoal da noite, bêbados, etc.
                Fiquei imaginando, uma cidade tão violenta como São Paulo... lembrei de outro táxi que tomara recentemente, em que o motorista me contou que tinha sido assaltado, teve o revólver em sua cabeça enquanto dirigia para um lugar que não conhecia, sendo deixado num matagal, obviamente, sem o carro.        
                Perguntei à moça se não tinha medo, tanto do trânsito violento como dos bandidos.
Ela disse que não, já estava acostumada, precisava trabalhar e, se fosse trabalhar em outra coisa, precisaria pegar ônibus, coisa que ela odiava.
                Conversamos mais um pouco, logo chegou o lugar em que eu iria descer, um pouco antes de casa, pois queria passar na padaria. Ela já tinha parado o carro, quando uma moto que estava na calçada fazendo não se sabe o quê, veio de ré e bateu na porta do carro, do lado que eu estava. Olhei e percebi que ele estava indo embora. Levei um susto e, enquanto me refazia, ela já tinha ligado o pisca-alerta e corrido atrás do motoqueiro para anotar a placa. Acho que ele ficou preso no farol, pois voltou com ela e, todo violento, desceu da moto e perguntou onde tinha amassado. Ela mostrou, ele olhou e disse:
- isso é sujeira, é só lavar. E foi saindo, quando ela disse:
- ah é? Vou chamar a viatura, pegando rapidamente o celular.
Ele avançou sobre a mão dela, torceu-lhe o braço, o celular caiu e ele zarpou. Ela me pediu pra esperar um pouco e correu atrás dele. Esperei alguns minutos, depois fui andando para ver o que acontecia, quando a vi conversando com um policial que estava num carro da PM. Logo ela voltou, segurando o pulso machucado, dizendo que a moto era roubada, ele era um bandido!
Acertei com ela a corrida, desejei-lhe boa sorte e fui para casa.

Primavera Azul
Enviado por Primavera Azul em 28/07/2012


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