Vera Barbosa

A maioria das coisas importantes que aprendo vêm de dentro, e não de fora de mim.

Textos

                    Quando ele nasceu, foi seu primeiro Dia das Mães. Pegava-o nos braços para amamentar e sentia como se ele ainda fizesse parte de seu próprio corpo, como antes de nascer, e imaginou que seria sempre assim, essa ligação forte, indestrutível.
                    Depois, via-o andar sozinho, às vezes correndo em sua direção, com os bracinhos abertos, e pulava em seu colo; outras, se afastando, indo procurar coisas mais atrativas. Mas tudo bem, isso significava que se desenvolvia normalmente e saudável. O importante é que ele estava sempre perto dela.
Nos “Dias das mães” seguintes, muitos abraços apertados, beijos e presentes, enchiam-na de felicidade.

                    Mais tarde, os abraços foram rareando, acontecendo só nos aniversários, natais e no dia das mães. Sempre ganhava presentes, mas os abraços não eram tão calorosos, nem tão receptivos, nem tão demorados como ela gostaria. Mas tudo bem, era uma fase, ele precisava afastar-se um pouco para construir sua própria identidade e sentir-se livre para fazer as próprias escolhas. O importante é que estivesse presente.
                    Aí vem a mudança, inesperada, dolorida, ele se muda para outra cidade. Mas tudo bem, isso são coisas da vida, o tempo se encarrega de acomodar tudo. O mais importante é que ele continuava a amá-la, e no dia das mães telefonava mandando muitos abraços e beijos saudosos, contando um pouquinho de sua vida. Antes, ele contava tudo. Mas tudo bem, não queria invadir sua privacidade. Além disso, sabia que as mães criam os filhos para o mundo.
                    De repente, a pior notícia que a mãe pode receber: seu filho não estava mais neste mundo. A dor, a revolta ao dar-se conta de que nunca mais o veria; nunca mais o som de sua voz, abraços nunca mais: o desejo de morrer a perseguia e aniquilava. Sentiu-se vazia, oca, uma casca de árvore seca.
Mas, de novo o auxílio do tempo: a dor diminuiu e ela voltou a sentir-se viva. Agarrou-se na fé de que ele também estava vivo, em algum lugar, e desejou firmemente que fosse feliz. Então percebeu que o amor não termina, e não precisa da presença física, nem de abraços, nem de telefonemas e presentes. O amor basta por si só e ela decidiu que continuaria a amá-lo, e seria feliz imaginando-o feliz, onde quer que ele estivesse.
Esse seria sempre o seu maior presente.
Primavera Azul
Enviado por Primavera Azul em 10/05/2014


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