Vera Barbosa

A maioria das coisas importantes que aprendo vêm de dentro, e não de fora de mim.

Textos

DOIS AMORES

         Da primeira vez que li, emocionou-me sobremaneira o modo pelo qual o narrador descreve as dores de amor, os ciúmes, os sofrimentos de Swann, quando este encontrava-se longe de Odette (a amada que, ciente do fascínio que exercia sobre o amante, absolutamente convicta da profundidade do amor que ele lhe dedicava, amor esse reiteradamente comprovado pela atitude de servil adoração e pelas vultosas quantias que ele lhe ofertava, desejosa de experimentar outros relacionamentos e já visivelmente entediada com sua presença constante, mesmo nos lugares onde ela não o autorizara a aparecer, aproveitava-se dessa “superioridade emocional” sobre o amante, infligindo-lhe toda sorte de punições morais, pregando-lhe as mais deslavadas mentiras e abusando ostensivamente desse ser que lhe dedicava tal sentimento, os ardis que empregava para vê-la como que “por acaso”, para não aborrecê-la e não correr o risco de, por castigo, ser impedido de encontrá-la; as nuances por que passava seu espírito, indo do mais profundo desespero à mais beatífica alegria, só pelo fato de saber-se (ou imaginar-se) o preferido da “deusa”, o esforço de sua inteligência, toda voltada a encontrar meios de descobrir, por outras pessoas, como era a vida de Odette, com quem Odette se relacionava, o que Odette dizia, a quem dizia e como dizia, enfim, essa minuciosa descrição da alma que sofre por um amor não correspondido.
(continua)

Primavera Azul
Enviado por Primavera Azul em 10/09/2023
Alterado em 10/09/2023


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