Vera Barbosa

A maioria das coisas importantes que aprendo vêm de dentro, e não de fora de mim.

Textos

DOIS AMORES (2)
         Ao ler pela segunda vez, então com mais vagar, e, principalmente, com a atenção despertada por uma frase do Prefácio, pude perceber e compreender o traço de união, ou melhor ainda, a profunda identificação entre os dois personagens principais desse primeiro volume, no tocante à dor de amor que ambos vivenciaram: a criança que costumava passar o feriado de Páscoa na cidadezinha de Combray, que sofria terrivelmente a ausência noturna da mãe adorada e o personagem Swann citado acima.

         Ironicamente, o personagem Swann era o responsável pelos sofrimentos da criança, pois, sendo praticamente a única pessoa a visitar sua família nessa temporada que passavam em Combray, suas visitas costumavam estender-se até tarde, depois do jantar, o que, muitas vezes impossibilitava à mãe comparecer ao quarto do garoto para o beijo de boa noite, lançando-o nos mais cruéis sofrimentos de carência e desespero.

         Enquanto leio, compungida, aquelas páginas – que retratam tão fielmente a dor, a sensação de abandono, o profundo amor e a necessidade que aquele menino tinha de sua mãe, os momentos que antecedem a ida dela ao quarto, para o único beijo de boa noite – imagino-o, franzino, minúsculo, deitado numa enorme cama que mais realçava sua pequenez, num espaçoso quarto, como imagino deviam ser os daquelas casas de campo das cidadezinhas da França do século XIX.

(continua)
Primavera Azul
Enviado por Primavera Azul em 10/09/2023
Alterado em 10/09/2023


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