Não quero a resposta, quero ser. Sei que sou parte de meus pais, que foram parte de meus avós, que foram parte de meus bisavós, que foram parte... até o primeiro homem, até o primeiro ancestral do homem, até a primeira célula que existiu. Mas a primeira célula era composta por moléculas, que eram agregados de átomos. O átomo criou tudo. Sou parte desse tudo. A nível atômico, sou eterna. E os átomos que formam meu corpo continuarão a existir após a decomposição da carne. E esses átomos que um dia terei sido continuarão a existir, eternamente, no ciclo da vida. Sou passado e futuro, simultaneamente.

De que vale a lembrança do passado? Um fato passado, ainda que recordado e revivido em detalhes perfeitos em minha mente, ainda que sentido com a mesma intensidade de quando ocorreu, ainda que pareça afetar-me cada vez que o recordo, é pura ilusão!

O passado não me marca mais. O fato só marca quando acontece, depois, não mais. O passado não me alimenta. O presente me alimenta e me marca. O agora é a vida. O passado é como o vento que passa por mim e me arrepia a pele, e me e esvoaça os cabelos. Depois que ele passa, minha pele volta ao normal e meus cabelos se aquietam. Nunca mais capturarei o mesmo vento. Nunca mais capturarei o mesmo tempo.

(CONTINUA)